11 outubro 2006

Sempre mais...

A gestão de recursos tem sido, de há uns tempos a esta parte, motivo de discussões e controvérsias.
Discute-se como gerir melhor o petróleo, o gás natural, o urânio enriquecido e a água potável (normalmente por esta ordem).
Discute-se o como gerir (ou não) as toneladas de monóxido e dióxido de carbono, de sulfatos, cloretos e nitratos.
Discute-se quantas árvores podem ser abatidas, quantas videiras devem arrancadas e quanto peixe pescado.
Em traços largos, estas são as discussões gerais sobre a gestão dos recursos naturais, de um planeta azul que tem uma capacidade de regeneração imensa mas não infinita e muito menos imediata.
É intrínseco à natureza humana o consumo por prazer, que ultrapassa, em muito, as necessidades básicas e em consequência a disponibilidade do que é oferecido.
E o pior é que quanto mais tem, mais quer... o ser humano não é saciável.

Esta atitude déspota não é válida só sobre o meio ambiente e pode ser verificada sobre toda a actividade humana.
Para exemplificar, desculpem recorrer à minha área de conhecimento, verifiquem o que se passou com os computadores nos últimos anos.

Não há muito tempo, houve um dia excitante lá em casa. Chegou um computador, novinho em folha, com aquele cheiro característico das coisas novas, que se desembalam com jeitinho. Era um topo de gama, um 486DX com 2 Mb de memória e uns 40 Mb de disco rígido (ou seriam 80? Já não me lembro...).
Esta maravilhosa engenhoca, que ultrapassava, por várias ordens de grandeza, o desempenho das anteriores, tinha um pequeno mostrador que indicava uma velocidade de 50 (sim cinquenta!) rapidíssimos Mega Hertz, quando o botão do turbo estava no fundo.
Era uma autêntica máquina voadora, tão rápida que quase se ultrapassava a si própria.
Mais tarde, porque o rendimento já não parecia tão vitaminado, levou um suplemento de esteróides e anabolizantes: mais um disco rígido e, pasmem-se, mais 6 Mb de memória!
Durou pouco o entusiasmo, tal como os atletas dopados em fim de carreira, foi ultrapassada pelas poderosíssimas plataformas informáticas actuais.
Aqueles 50 milhões de ciclos por segundo, não eram suficientes para acertar o passo com as necessidades, sempre em evolução crescente, dos programas que corriam sobre aquela máquina.

Aliás, é ponto geralmente aceite, que os recursos que os programadores utilizam, são sempre superiores àqueles de que as máquinas, para as quais os seus programas foram desenhados, podem oferecer.

O utilizador comum, faz as tarefas básicas com um computador, como editar um texto, ou fazer umas contabilidades, à mesma velocidade que fazia anteriormente, pois os seus dedos não escrevem mais depressa por o indicador de velocidade, da Unidade Central de Processamento, indicar um número tão grande que o faz perder a noção do seu significado.
Mas queremos sempre mais, mais rápido e com mais potência!

Se a gestão dos recursos, virtualmente ilimitados, de processamento e memória, disponíveis para uma aplicação, num computador actual, fosse efectuada com a mesmo cuidado com que eram geridos os espartanos recursos dos primórdios da computação, teríamos certamente processos muito mais rápidos, mas provavelmente a evolução do equipamento não seria tão acentuada.

Imaginem a cara de espanto de um pré-adolescente de dez anos, ou mesmo quinze, se lhe disserem que o seu telemóvel, que lhe cabe na palma da mão e com o qual não está satisfeito, pois não possui aquelas características essenciais a qualquer miúdo ou miúda daquela idade, tem uma capacidade de processamento e de memória vários milhares de vezes superiores à do caixote que vi ser desempacotado com jeitinho há uns anos.

Podia enumerar outros exemplos de que o humano quer sempre mais e mais... mas isso já todos sabem e sinto-me um bocado idiota a referir este assunto, sobretudo na área das chamadas tecnologias da informação.

No entanto, deixem-me acrescentar uma última nota, que surge também na sequência de uma nota presa anteriormente sobre ficção científica.
Já reparam a dificuldade que é apresentada aos actuais autores de histórias sobre o futuro? Deve ser verdadeiramente difícil conseguir surpreender o mundo, a começar pelas gerações mais novas.

Lembro-me bem da expressão facial dos meus avós quando puderam comunicar com a minha irmã, que estava lá longe, através da vídeo-conferência. A ficção científica estava a realizar-se diante dos olhos deles e para mim, confesso, era evidente e naturalmente possível.

Acho que o Orson Welles teria hoje algumas dificuldades em reproduzir os efeitos que teve nas audiências da Guerra dos Mundos.


Pequeno reparo a quase todas as notas já presas:
Apercebi-me que tenho tendência a divagar... começo a nota num assunto e termino noutro. Porque será? Tenho de meditar sobre isto, pode ser um problema psíquico grave.

1 Anotação:

Anónimo anotou...

Começas com um assunto e acabas com outro???
Conheci uma senhora que dizia que enquanto escrevias uma coisa já estavas a pensar noutra, de tal modo que algumas palavras ficavam incompletas.
"SEMPRE MAIS..."
Gostei!
:)