Descobri que tenho uma dependência, no entanto ainda não consegui avaliar qual o seu grau de toxicidade ou até que ponto pode ser perigosa para a minha saúde.
Reparei que é uma dependência comum nesta sociedade em evolução, neste início de século que arrancou disparado pelo novo milénio dentro.
É uma dependência cuja dureza da ressaca varia com diversos factores. Embora já consiga prever os momentos mais dolorosos não lhe consigo resistir e a privação custa-me mais do que eu inicialmente seria capaz de admitir.
A necessidade aguda faz-me gastar dinheiro, quase sem controlo, na urgência de a suprimir.
Creio ainda não ter chegado a um ponto sem retorno, mas sinto que cada vez mais esta dependência se entranha no meu ser.
A reabilitação não será um processo simples, a redução da dose terá de ser acompanhada de cuidados especiais e de uma atenção redobrada aos sintomas.
Claro que outras questões me preocupam, como a qualidade do produto, que poderá incluir excipientes perigosos, ou onde arranjar os fornecedores necessários, garantindo a minha segurança, quando estou deslocado.
Mas enfim, creio que o primeiro passo para a reabilitação está dado, tomei consciência do problema. Muitas pessoas estarão ainda longe de perceber que têm o mesmo problema que eu e estarão por isso, infelizmente, ainda mais longe da cura.
Por esta altura estarão já preocupados com o meu bem-estar e asseguro-vos que não será caso para menos, o caso ameaça tornar-se grave se não for devidamente controlado.
Na pouca investigação que fiz sobre este assunto e analisando os meus próprios sintomas e comportamentos, sou capaz de identificar outras pessoas onde esta patologia se manifesta e isso preocupa-me de sobremaneira, pois se não me consigo curar não sei se consigo ajudar sequer aqueles que me são próximos.
Sou, se ainda não repararam, dependente da comunicação e da ligação à rede que se assume ubíqua mas ainda está longe de o ser. Sou consumidor de conteúdos impressos e electrónicos, os quais, como já referi têm demasiados aditivos e excipientes perigosos para a minha saúde mental.
Estou dependente de uma ligação ao mundo e de algumas ligações ponto a ponto.
Esta semana que passou, tive de resistir à míngua desta droga, à escassez de recursos, à carência de um produto de qualidade, à inexistência de um ponto de acesso.
Estive, por isso, de ressaca sem conseguir que o meu cérebro tivesse a coerência necessária para que conseguisse prender aqui alguma nota.
E desenganem-se, não há Metadona, ou outro produto de substituição que me valha... a coisa só estabiliza com mais largura de banda, disponível a qualquer hora, onde quer que esteja, sem limites de tráfego e com custos controlados... cortar a dependência terá sempre de ser gradual.
Hoje gastei umas horas a viajar na espuma das ondas da rede, a minha respiração normalizou-se e o meu ritmo cardíaco desceu para níveis aceitáveis, os suores frios secaram, as tremuras pararam, o meu cérebro atrofiou um pouco e senti-me regenerado.
21 outubro 2006
Droga...
Nota presa por Yosemite Sam às 23:47
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