24 outubro 2006

Pão fresco...

Hoje parei numa padaria, ao final do dia, mesmo antes de chegar a casa, para adquirir uma simples baguette.
Não tenho por hábito fazê-lo, nunca consigo dar conta de uma baguette inteira sozinho e mesmo não sabendo todos os ingredientes da massa, asseguro-vos que no dia seguinte estes pequenos cacetes têm consistência bastante para se jogar um dos desportos predilectos daquele povo que habita do outro lado do Atlântico.
Mas hoje apeteceu-me! E fui agradavelmente surpreendido.

Peguei no saco de papel, estreito, feito à medida do conteúdo e senti, na minha mão, o calor daquela massa acabadinha de cozer. Dois passos fora da porta do estabelecimento, já tinha um pedaço na boca. Nesse momento apercebi-me que, por alguns cêntimos, tinha adquirido muito mais do que o sustento necessário ao meu estômago.

Aquela baguette francesa, mesmo que mal cozida e quase sem sal, trouxe-me à memória sabores esquecidos e aventuras passadas.

Mesmo sem manteiga, cheguei a casa, cinco minutos depois, com menos de metade daquele pão dentro do saco de papel, o resto foi devorado sem esforço enquanto me acomodava.

Não sendo nenhum casqueiro saloio, nem panito alentejano, não sendo de milho, nem sequer de centeio, o calor que me transmitiu às mãos e à boca, nesta noite fresca de Outono, atenuou os seus defeitos e feitios e, digo-vos, soube-me bem!

A cada dentada imaginava-me, como que por magia, noutros locais, noutros momentos.

Estive em Évora Monte, a comer pão seco, às poucas horas da madrugada, num dia de Verão.
Passei pela Ericeira, onde fiquei dez minutos, sentado num banco de jardim à espera da primeira fornada.
Esperei na fila, abrigado da chuva na ombreira da porta de uma casa, no Pobral, que um pão bem cozido, embrulhado em papel pardo, estalasse à pressão dos meus dedos.
Entrei numa casa, com uma chaminé maior que as outras, na Zambujeira e saí com água na boca e com um pão de quilo num saco.
Encomendei ao padeiro, à beira da estrada, mais uma broa, para juntar às vinte carcaças e aos dois centeios...

Em duas ou três dentadas, num pedaço de pão francês mal amassado, passeei no tempo e no espaço, num êxtase singelo e sentido.


Anotações:

Peço desculpa a quem ler isto antes do pequeno-almoço.

Porque raio é que se diz pão fresco? Quando está bem fresco costuma escaldar!

Não resisti a uma passeata no Google Earth, para quem quiser espreitar, ou até comprar pão, ofereço-vos as coordenadas das padarias que falei em cima, descarreguem este ficheiro: Padarias.kmz
Notas a esta nota: a da Aldeia das Dez é donde vem o padeiro que apanho à beira de uma estrada naquelas serras; a de Évora Monte nem sei sequer se ainda existe mas os Alentejanos gostam de pão.

1 Anotação:

Anónimo anotou...

Abriu-se-me o apetite, sobrou alguma «beca»??? Desse bem cozido e a estalar...