13 agosto 2012

Mais Longe, Mais Rápido... Mais Alto

De quatro em quatro anos estaciono durante cerca de duas semanas no sofá, com a televisão sintonizada na cobertura dos Jogos Olímpicos.
E se me lembro do Carlos Lopes a cortar a meta em Los Angeles e da Rosa Mota em Seul... nas tardes e noites de Agosto passadas em casa dos avós, na Costa Vicentina... A minha memória está mais viva desde aquele momento mágico em que o Antonio Rebollo acendeu a pira olímpica em Barcelona. E depois Atlanta, Sydney, Atenas, Pequim... e agora Londres.
Claro que não me lembro de Moscovo, mas a história que se aprende com o passar de cada ciclo olímpico, (e já lá vão quantos? 8 e meio!) está deliciosamente recheada...
Alguns dos nomes maiores do desporto foram gravados no meu subconsciente sem eu sequer me aperceber... Liddell e Abraham através da 20th Century Fox, pelos livros de história onde Jesse Owens pontifica em fotos nas mesmas páginas onde de vê o asqueroso bigode de Hitler... e pelo tio Zé Fino, que me entre outros nomes me chamava Zátopek, pelo avô fã da Roménia e da Nadia.
E claro Pierre de Coubertin, como seria de esperar, foi-me apresentado na infância pelo Sport Goofy(1)!

A cada Olimpíada há novas estórias, novos recordes batidos, é a espécie humana que se supera a si mesma.
Mais! A cada Olimpíada é possível aferir não só a evolução do desporto mas da engenharia e da técnica... A televisão é talvez o testemunho mais nítido dessa evolução... desde as primeiras emissões a preto e branco dos jogos de 1936 até às emissões em alta definição e a três dimensões dos jogos de Londres.

A cada Olimpíada continuo a emocionar-me, desde as lágrimas à raiva pura. Porque alguém bateu um recorde pessoal sem ganhar uma medalha... porque alguém que pesa 77kg e sofreu uma lesão num braço, consegue levantar 190kg para ganhar uma medalha de prata, enquanto grita de dor e as lágrimas se confundem com suor...

A raiva vem sempre porque há quem tente fazer batota e manipular as regras.
E como me irritaram as meninas do badminton! Jogar para perder só parar defrontarem pares teoricamente mais fracos na eliminatória seguinte. Foram desqualificadas! E bem! O espírito desportivo prevaleceu...
Além de que como agora tudo é espectáculo, quem pagou (caro!) aqueles bilhetes não terá sido para ver as melhores jogadoras do mundo atirarem volantes contra a rede.

O espectáculo felizmente continuou em grande durante duas semanas, mais recordes foram batidos, mais história aconteceu que ficará registada na minha memória.

Quando os jogos acabam é um alívio, já me posso levantar do sofá!
Estes jogos de Londres tinham o slogan: "Inspirar uma geração!". Pois a mim não precisam de inspirar, 2016, Rio de Janeiro, voltarei a seguir tudo o que conseguir!


(1) - Sim, foi numa animação colorida da Disney, gravada numa cassete VHS que revi vezes sem conta que ouvi pela primeira vez a frase:

The important thing in life is not the triumph but the struggle, the essential thing is not to have conquered but to have fought well.

Com a legenda em Português:

O importante na vida não é tanto o triúnfo mas o combate, o essencial não é conquistar mas é ter lutado bem.

Mal eu sabia que um dia viria a saber ler o original:

L'important dans la vie ce n'est point le triomphe mais le combat, l'essentiel ce n'est pas d'avoir vaincu mais de s'être bien battu.


01 abril 2012

Ficção Ciêntifica hoje

 
Uns grupos de cientistas, para lidar com as suas inaptidões sociais(1) resolveram passar uma temporada enterrados, numa gruta dos Alpes italianos. Só para ver chegar umas partículas que vêm da Suíça, sem pagar portagem e sem apresentar identificação na fronteira.

Em Setembro de 2011, uns quantos desses cientistas chanfrados(1) assomaram-se à entrada da gruta e gritaram ao mundo para chamar a polícia! Existia um resquício de prova de que a velocidade da luz, limite máximo de velocidade definido pelo código da estrada do Universo (tal como passado a limpo pelo Alberto(2) em 1905), tinha sido ultrapassada, por um conjunto de neutrinos destrambelhados e sem travões numa dessas travessias dos Alpes... e eles queriam que alguém os multasse.

Ora como aquilo se passou em Itália e os carabinieri têm mais do que fazer do que tomar conta do trânsito, porque o código lá é um mero conjunto de regras indicativas, e porque não há mal num pouco de excesso de velocidade... afinal nem excederam a tolerância.
E todos sabemos quão inclinados são os Alpes nalgumas daquelas escarpas, veja-se lá a velocidade que os tipos da descida livre atingem!

Entretanto um outro grupo de cientistas-toupeira, emergiu para afirmar que afinal os neutrinos não foram cronometrados em excesso de velocidade porque, ao que parece, o equipamento não estava devidamente calibrado. Repetiram as medições e o neutrinos afinal até são partículas bem comportadas.

Ora eu fiquei decepcionado! Embora me tenham dado argumentos para refilar com a Brigada de Trânsito na próxima vez que for "cronometrado" em excesso de velocidade na A1; sempre tive muitas dúvidas de que aqueles radares estejam devidamente calibrados, afinal o princípio de funcionamento daqueles aparelhómetros baseia-se na velocidade da luz(3) emitida por eles e reflectida pela viatura onde me desloco.

Mas fiquei decepcionado porque o ano de 2011 correu tão bem para os aficionados da ficção científica... e 2012 já começou arranjar dificuldades.
Em 2011 ano tive a impressão de estar a assistir a uma revolução.
E não estou a falar da Primavera Árabe.

Refiro-me a ter a sensação de estarmos a caminhar a passos mais seguros para dominar as tecnologias que nos permitem acreditar (ainda) mais fervorosamente nas possibilidades que os mestres descrevem nos seus escritos sobre o futuro(4).

E acho que o entusiasmo com que li a notícia da possibilidade dos neutrinos terem ultrapassado o limite que é a velocidade da luz, só talvez seja comparável ao meu entusiasmo quando descobri que tinha uma bicicleta nova na varanda.
Com ela podia pedalar até onde eu quisesse... se a velocidade da luz não for realmente um obstáculo então também podemos ir até onde quisermos... ou quase... um dia.

Ainda não perdi a esperança de que, ainda no meu tempo, seja possível construir uma Warp Drive.

---
(1) É do conhecimento público que pior do que um engenheiro a viver em sociedade só alguém com formação em Física... e se forem investigadores então!... até falam numa língua desenvolvida por eles, um código que só eles conseguem decifrar (e não todos!)... chanfrados portanto.
Até porque quem é que no seu perfeito juízo se lembraria de disparar umas partículas que ninguém vê, a partir da Suiça, através da rocha dos Alpes, para as tentar (e conseguir!!!) apanhar numa caverna em Itália a mais de 730km de distância?

(2) Albert Einstein, em 1905, escreveu uns artigos científicos importantes, entre eles o da teoria da relatividade restrita e um outro onde a famosa fórmula
E = mc2 foi apresentada ao mundo.
Não vou aqui explicar nada do que ele escreveu, mas é necessário dizer que a humanidade avançou muito, enquanto espécie, devido a essas publicações.
Tenho, no entanto, de referir, que para mim, são apenas uma das interpretações possíveis do universo como o conhecemos... quero acreditar que não são definições únicas e absolutas.

(3) Na realidade o radar baseia-se na frequência da luz e não na sua velocidade.
Na sua dupla personalidade, verdadeiramente esquizofrénica, a luz emitida pelo radar comporta-se como uma onda e não uma partícula. Uma onda que é reflectida pelo objecto e recolhida pelo aparelho que mede o desvio na frequência causado pelo efeito de Doppler. Acham que o sr. guarda se deixa enganar?
Ah! É verdade, quase que me esquecia: Oh mãe! Fica tranquila porque não ando em excesso de velocidade, nem na A1 nem noutra A qualquer... foi só uma figura de estilo.

(4) Foram várias as descobertas e inovações apresentadas ao mundo que aproximam a realidade da fantasia, aqui ficam dois exemplos:
- Materiais que se regeneram a fazer lembrar o modelo T-1000 do Terminador implacável
- Controlo remoto com a mente a la Avatar

31 março 2012

Circulando

Descobri no outro dia que moro no distrito onde a taxa de acidentes na estrada é menor.
Num país onde a média de acidentes por cada mil é de apenas cinco, o condado de Wiltshire, um dos maiores em área, apresenta apenas metade desse número: 2,5 por cada 1000 carros na estrada.

Claro que podemos fazer umas contas rápidas e chegar à conclusão de que num país onde estão registados mais de 30 milhões de viaturas, concentradas numa área de 130 395 km2, onde vivem cerca de 60 milhões de pessoas e muitas ovelhas, as seguradoras têm bastante negócio tal como os reboques e bate-chapas.
Para termo de comparação podem usar Portugal que tem 10 milhões de habitantes, numa área de 92 090 km2 e tem cerca de 7 milhões de viaturas registadas. Como dizia o outro: "é só fazer as contas."

Mas aqui as estradas são realmente tranquilas e eu explico porquê, é que confesso que andei intrigado durante algum tempo sobretudo porque esta gente dá nas vistas como sendo incapaz de conduzir como deve ser. Facto agravado por conduzirem do lado errado, obrigando o cérebro a trabalhar com um hemisfério que não foi desenhado para essas funções.

Um colega meu esboçou uma teoria onde tentava enquadrar a observação de que os ingleses conduzem, regra geral, devagar. Sim, cumprem os limites de velocidade, indicados em milhas por hora (mph) num país onde o sistema métrico foi imposto em todo o lado excepto nos sinais de trânsito... o que, claro!, os baralha ainda mais(1).
Dizia esse meu colega que:
" - Eles conduzem devagar porque têm medo que venha de lá alguém a conduzir na mão certa."

Esta é uma teoria bastante válida e que eu já testei, pois já aqui andei na mão certa e a velhinha que ficou a olhar para mim, realmente vinha devagar.
Mas como atrás dela vinha uma enorme fila de trânsito, com malta que parecia estar a desesperar atrás da senhora, que vinha realmente devagar, não considero que os dados recolhidos na experiência sejam completamente representativos.

A minha teoria para o cumprimento do limite de velocidade é mais pragmática e assenta em duas premissas:

     a) eles têm mais obras nas estradas, sobretudo nas auto-estradas, que as câmaras municipais de Portugal quando decidem que têm de abrir valas para passar uns cabos quaisquer;
     b) eles têm plantados nas estradas, sobretudo nas zonas de obras nas auto-estradas, mais sistemas de radar e de câmaras do que eucaliptos em Portugal.

Por isso passar das 70 mph é complicado... eu percebo.

Mas para esta gente tem de ser assim. Têm de se explicar tudinho e definir tudo de maneira a que não haja confusões. Eles já têm de se preocupar com muita coisa quando estão ao volante, a começar por descobrir como engrenar a mudança seguinte com a mão esquerda. Por isso as coisas aqui têm de ser simplificadas.

Se para os italianos o código da estrada é um mero conjunto de indicações genéricas, para os ingleses o código da estrada tem mais peso do que a Magna Carta.
Mas ao contrário desse documento basilar da história deste país, o código da estrada inglês é simples.

Não têm, por exemplo, a regra da prioridade.
Mais uma vez creio que é por eles terem alguma dificuldade com as noções de lateralidade.

No continente tem prioridade quem vem da direita excepto indicação em contrário.
Aqui tem prioridade quem não tem sinal algum que lhe indique o contrário.

Eles assumem que se eles não têm um stop ou um triângulo invertido na frente, que existe um desses sinais na estrada que se cruza com aquela onde circulam e portanto têm prioridade.
Eu confesso que ainda avanço a medo, até porque sendo Português tenho sempre aquela sensação de desconforto que me faz questionar a existência de sinais do outro lado.

O único local onde eles têm uma noção de prioridade é numa rotunda. Quem circula tem prioridade.
Para mim é mais intuitivo do que pensam, pois é só dar prioridade à direita. (Se baralhei alguém peço desculpa).

E claro que como esse local sagrado os ajuda a perceber como usar um cruzamento poupando na sinalização vertical, eles polvilham as estradas de rotundas.
Usam a rotunda como pontuação num texto.
Círculos pintados no asfalto, com 1 ou 2 metros de diâmetro, que se atravessam a direito, até porque não há espaço para serem contornados, mas que definem a ordem de passagem num cruzamento. E é engraçado observar a hesitação destes gentlemen e destas ladies, quando 3 ou mais das suas viaturas se aproximam das mini rotundas ao mesmo tempo... enfim, avanço eu a rir, porque tenho sangue latino e não fico muito tempo a tentar descortinar o bloqueio que se gera.

Os ingleses elevam a arte das rotundas a um nível que faz inveja a qualquer presidente de um qualquer município de Portugal, em particular do de Viseu.
Eles condicionam o trânsito nas rotundas, pintam as faixas na estrada em espiral, encarreirando as viaturas para as saídas correctas a partir do momento em que entram no carrossel.
Mas tem mesmo de ser assim, porque se não lhes disserem como se faz eles não fazem, e fico na dúvida se sabem fazer.

Se eu fosse reaccionário diria que até as rotundas limitam a liberdade de expressão neste país... se eles descobrissem o prazer que dá entrar no Marquês de Pombal, em hora de ponta, descendo da Fontes Pereira de Melo, fazer uma tangente ao calcário do passeio da placa central, e sair para a Braamcamp sem ouvir um apito.

Mas a arte nas rotundas é realmente refinada. Eles fazem rotundas dentro de rotundas. Rotundas grandes com uma rotunda pequena em cada uma das entradas da rotunda maior, fazendo com que na rotunda grande se gire ao contrário das rotundas pequenas...
A mais emblemática destas rotundas está neste distrito, na cidade de Swindon, e tem título de conto de fadas: A Rotunda Mágica - The Magic Roundabout - talvez por isso aqui o número de acidentes ainda seja menor... pudera é preciso andar ainda mais devagar!

The Magic Roundabout

Algumas referências visuais:
Wikipedia: The Magic Roundabout Swindon
Google Maps: The Magic Roundabout Swindon
Google Maps: rotundas pintadas

(1) - Demorei algum tempo para perceber como eles usavam os marcos nas estradas. Nas placas de sinalização indicam números para a distância às terrinhas onde a estrada nos leva e olhando para os marcos a coisa não batia certo... cheguei a colocar em causa se eles sabiam contar.
Mas descobri! As indicações das distâncias estão em milhas os marcos da estrada em quilómetros!
Não deixa de ser irónico: milestones em quilómetros. ;-)