29 setembro 2006

Vira o disco e...

Bem, pego aqui no tema que ontem ficou na gaveta à espera que eu tivesse um pouco mais de paciência para lhe pegar... e vamos lá ver se não fico pelo caminho, pois isto faz-me um nervoso miudinho, indisfarçável. Um nervoso de irritação, que me apetece desatar a chamar nomes menos próprios a toda uma classe profissional.
Aqui não terei algum resquício de pudor nas generalizações.

Têm lido a imprensa nestes últimos tempos? Já nem digo nos últimos anos, digo apenas nos últimos meses.
Se a resposta for não: podem bem continuar sem esse vício.
Se a resposta for sim: deviam considerar largar esse vício e deixar de sustentar uma cambada de indigentes.

Estando desterrado, umas almas caridosas fizeram-me chegar às mãos não um mas dois dos mais respeitados diários portugueses, ambos datados de Domingo, 24 de Setembro de 2006.

Estava excitado com novidades semi-frescas, já eram de ontem quando lhes peguei, mas que, talvez pela textura do papel e do odor característico deste tipo de publicações, ainda apeteciam.
Depois, pensava eu na minha ingenuidade, estariam escritas em português... enfim... começam os desenganos.

Náuseas surgiram-me assim que olhei para as capas.
Depois de respirar fundo duas ou três vezes abri o primeiro. O som do papel a desdobrar-se para me mostrar a página seguinte, trouxe de novo uma pequena agitação ao meu espírito curioso. Mais do mesmo...

Folheio o jornal até ao fim, dou-me ao trabalho de ler as gordas e algumas das pequenas, mas não se aprende nada. Não há sumo. Quem é que tem paciência para isto?

Foi mais forte do que o meu auto-controlo, apenas consigo justificar a atitude com a palavra saudade, peguei no segundo jornal.
As páginas seguiram-se a um ritmo bem mais acelerado que o primeiro... aquilo era tudo igual!
Dei por mim, com os dois jornais abertos, a jogar o jogo "descubra as diferenças" entre eles.

Já não há jornalismo. Esperem, reformulo, o jornalismo transformou-se. A questão é que ainda ninguém percebeu em quê.
Se alguém já percebeu, deve ter vergonha de dizer, porque ainda não se descoseu.

E jornalistas! Desapareceram! Já não são capazes de se fazerem ouvir nem se importam com isso. E é fácil perceber porquê...
Entre outros defeitos tão ou mais graves, o pouco português que sabem mal lhes chega para fazer a lista de compras!

E depois? Depois acabam-se os jornais. Passaram a folhetins rasca. Com o mesmo tamanho, as mesmas cores, as mesmas noticiazinhas desencantadas, apresentadas da mesma forma com os mesmos cabeçalhos, as mesmas fontes, as mesmas fotografias. Quem passa os olhos por um lê todos!

Ao que parece, surgiu para aí um novo semanário, não lhe vou fazer publicidade, parece que o jornaleco sai aos Sábados. Opinam por aí os bem-aventurados da palavra que a tinta fresca de um jornal novo dará uma nova vida à imprensa e ao jornalismo, beneficiando os leitores.
Pelo que li na concorrência, pois ainda não tive o privilégio de desfolhar a novidade, acho que o desperdício de papel só servirá para aborrecer mais ainda os fins-de-semana das portuguesas e dos portugueses.

Nem de propósito, adiei o tema por um dia e logo hoje mais uma opinião sobre estas matérias. Dá para ver que ainda há jornalistas que se apercebem do que se está a passar. Pela invocação de um passado já longínquo, apercebemo-nos que o homem já é doutra era e olha para trás com nostalgia, mas mantendo o autismo e o orgulho de quem está no meio, olha para o futuro com optimismo moderado.

Mas há mais! A imprensa está em pânico com as novas Tecnologias de Informação (nome pomposo para designar os novos meios de comunicação).
Estão a perder terreno. Estão sobretudo a perder a exclusividade da palavra.
Até um totó como eu já escreve e publica sem esforço.

É óbvio que há culpados! E que esses somos nós, leitores que aceitam de bom grado, sem pestanejar, sem questionar, a desinformação que nos é colocada no colo.
Não exigimos mais nem melhor... a partir daqui é sempre a descer.

Essas cabeças ocas, cujos donos por aí respiram, deliram é em saber que a prima em terceiro grau do tipo careca que tem uma tatuagem no braço esquerdo e é irmão do rapaz bem parecido que dá pontapés na bola num estádio de futebol num país onde se fabricam carros desportivos ou onde se dança o samba que é casado com uma rapariga jeitosa que pousou meio despida num catalogo de uma qualquer marca de roupa interior masculina e que é amiga do vizinho que tem um cão pastor e uma gata parda arrancou uma verruga do nariz numa complicada cirurgia plástica e adoram ainda mais a entrevista exclusiva para todas as agências noticiosas da amante do médico anestesista.

Desisto! Não compro mais jornais para consumo pessoal.

Ligações anotadas:

O provedor sobre anglicismos:
http://dn.sapo.pt/2006/09/25/opiniao/socorro_sera_help.html
(O último parágrafo é referente ao jornal de Domingo passado)

Um jornalista de outra era:
http://dn.sapo.pt/2006/09/28/opiniao/o_mundo_nao_cabe_paginas_jornal.html

Um jornalista, não de outra era, constata o óbvio:
http://dn.sapo.pt/2006/09/27/opiniao/lugares_sol.html

Uma senhora, não jornalista, mas que pertence a uma classe que eu talvez aprecie menos, a dizer umas verdades:
http://dn.sapo.pt/2006/09/22/opiniao/a_importancia_palavra.html

Pequena anotação:

Tenho pena mas só o Diário de Notícias disponibiliza uma versão aberta das suas notícias na Internet, por isso estas ligações vão todas para o mesmo jornal, também pouco importa... dizem todos o mesmo...

28 setembro 2006

Salva de palmas...

Vinha a pensar escrever sobre outra coisa, que vou guardar para amanhã, mas depois de duas horas enfiado num avião tenho de explanar a minha prosa noutra direcção.
Não tanto porque este desabafo electrónico saiba bem mas, sobretudo, porque pretendo levantar a moral às hordas de compatriotas que se sentem pertencer a uma nação construída por heróis e habitada por estúpidos.
Cambada essa que tem por regra ficar muito ofendida quando, em viagem por países que eles consideram culturalmente mais elevados, encontra portugueses a atentar contra as regras da civilidade.
Boeing 737-800
Entalado entre um pacato senhor de idade e uma simpática senhora com uma cintura (e não só) bastante avantajada, viajei à frente de uma família, cuja mãe passou quarenta por cento dos últimos dez anos grávida, e atrás de um bando de nove senhores numa faixa etária que nos levaria a supor serem detentores de noções de bom comportamento.

Os risos das crianças loirinhas sentadas atrás de mim ecoou pelo avião, com as sensações provocadas pela aceleração e por sentirem o estômago descer até aos rins, aquando da descolagem.
A troca de sorrisos com os meus parceiros de fila foi comprometedora, a coisa começava bem.

Adormeci, para acordar por alturas do anúncio da fase de aproximação ao aeroporto de destino, com um safanão no meu assento provocado por uma das pestinhas da fila posterior. Nada de mais. A tripulação faz a recolha dos copos e outros resíduos da alimentação a bordo.

Ainda meio ensonado mas a despertar depressa, com a ajuda de um volume de ruídos crescente, apercebo-me das tropelias do grupo de machos holandeses, que distribuídos por duas filas à minha frente faziam voar entre eles pequenos objectos, que me pareceram bolinhas de papel, e vociferavam na língua mais arranhada e com a sonoridade mais agressiva que já fez vibrar os meus tímpanos.

As crianças desatam a chorar e a gritar, sabe-se lá porquê. Os encontrões no meu assento e nos dos meus vizinhos sucedem-se. E os tipos à minha frente prosseguem com comportamentos mais infantis que as crianças.
O nível sonoro aumenta. O som das gargantas a arranhar, como que a prepararem-se para escarrar a qualquer momento, que parece ser a base do neerlandês, do frísio ou seja lá do que for que eles estavam a falar, torna-se ainda mais desagradável quando dirigido às hospedeiras naquilo, que a julgar pelas expressões nas suas caras, seriam piropos inapropriados.

O avião começa a curvar, olho pela reduzida oval transparente na fuselagem e avisto (ou será que imagino?) as duas filas de luzes que sinalizam a pista onde nos preparamos para aterrar.
Bolas está quase!
Ajusto a ventilação para ter um pouco mais de ar, o meu grau de impaciência diminui.

A coisa aterra sem a subtileza a que estou habituado nas companhias aéreas portuguesas. O piloto atirou com o avião ao chão como se quisesse provar que as suspensões estavam a funcionar em boas condições.

A coisa acalma e, para findar esta última meia hora absurda, ouve-se bater palmas no grupo de senhores, que apresentavam problemas comportamentais de quem estará a entrar na andropausa.

Dizem que no reino da Beatriz as pessoas são civilizadas...
Se julgasse pela amostra de duzentas pessoas contidas em dois voos, de e para os Países Baixos, afirmaria o contrario, como os meus conterrâneos, que tendem a generalizar sobre o seu próprio povo pelas amostras que vêem, provavelmente, eles próprios.

Pequena nota final:

É ordinário ouvir-se uma grande salva de palmas a bordo dos aviões da Transportadora Aérea Portuguesa quando estes aterram em Lisboa... claro que isso é uma demonstração de alguma histeria colectiva, mas perfeitamente compreensível quando interiorizamos onde acabámos de aterrar.

25 setembro 2006

Ópio...

A ciência nunca abarcará o infinito do conhecimento.
A razão, seca, crua, desprovida das emoções que a toldam, só conseguirá alcançar a Teoria Única no fim dos tempos.
E os constantes desafios à lógica e raciocínio humanos, impostos pela força de universos desconhecidos, encontrarão sempre resposta segura nas crenças e religiões deste mundo, actuais e futuras.
A natureza humana é demasiado receosa, ou demasiado orgulhosa, para se permitir aceitar o desconhecido sem o explicar.

Mas a religião deixou de ser o ópio do povo.
O entorpecimento do ópio não causa o reboliço a que hoje se assiste.
A religião sintetizou-se, tornou-se no ecstasi do povo, que dança, irascível, pelo mundo, ao som de troantes explosões, como que numa rave permanente.
O ecstasi oferece a ilusão de energia infinita... tempos e tempos de frenesim.

22 setembro 2006

Ciclo...

O Outono é a estação onde tudo acaba...
Caiem as folhas e os frutos que restam...
O Sol murcha e a escuridão alonga-se...
Arrefece, chove e troveja.

O Outono é a estação onde tudo começa...
As sementes são lançadas à terra...
Vindima-se para o vinho novo...
A água molha os campos e a escorre pelas ribeiras.

O Outono prepara a Primavera.
O Outono é o fim e o princípio de um novo ciclo.

21 setembro 2006

Daqueles dias...

Nunca se ouviram a dizer a vocês próprios: "Hoje é um daqueles dias!"?
Mas que raio é que isso quer dizer afinal?
No fim de contas é um pouco mais subjectivo do que dizer: "Hoje está a chover!".

"Hoje é um daqueles dias!" é uma frase que pode ter uma interpretação positiva ou negativa. E mais do que depender do contexto em que é dita, depende de quem a profere.
Não será nunca uma interpretação muito positiva nem muito negativa. Para as situações que o exigem, utilizam-se normalmente expressões mais fortes e marcantes como: "Hoje está a ser um dia e pêras!" ou "Hoje está a ser um dia de cão!"
Estas expressões são também, em si mesmo, ambíguas. Eu posso nem sequer gostar de pêras e o cão do meu vizinho leva uma vida que muitos invejam.

Aqui as palavras estão presas ao nosso imaginário pessoal, mais até que ao contexto em que são lançadas.

Então expliquem-me, como raio é que a coisa funciona?

Esquisito...

Veio-me à cabeça o seguinte exemplo para ilustrar a ambiguidade das palavras e tentar demonstrar que a cultura poderá ter uma grande influência no assunto.

A palavra "esquisito" aparece nas línguas portuguesa e castelhana. No entanto, sendo palavras homógrafas são ao mesmo tempo antagónicas.
Com o mesmo significado que o castelhano, o francês possui a palavra "exquis" e o inglês a palavra "exquisite". Nestas línguas, ao contrário do português, esta palavra representa o conceito de belo, delicado ou delicioso.
Ora daqui podemos ver que a base etimológica deve ser a mesma e deduzir que, seja lá qual tenha sido o povo que inventou esta palavra, por uma questão de maioria qualificada, a ideia seria descrever qualquer coisa como sendo muito boa.

O problema de comunicação quando a palavra atravessou a fronteira entre os dois países ibéricos, resume-se, quanto a mim, num problema gastronómico.

Imaginem-se sentados à mesa de um restaurante em Paris, quando está a chegar à mesa o vosso pedido. Um daqueles pratos da haute cuisine francesa, maravilhosamente decorado, com um aspecto que a maior parte dos outros fregueses considera delicioso (franceses, espanhóis e ingleses estão incluídos neste lote). Pensem agora que esse prato vos é apresentado como sendo o topo de gama do estabelecimento, verdadeiramente"exquis".

No momento em que olham para o prato que vos colocam à frente e percebem que entre as duas batatinhas dispostas em triângulo, alinhadas numa verdadeira ortogonal com uma cenoura minúscula, colocada paralelamente à pequena tira de carne (ou será peixe) picada, enfeitada com salsa, a exactamente trinta e três milímetros da risca colorida que é um molho não identificado. O sentido de "exquis" torna-se claramente negativo! Aquilo é esquisito!
O pior é que estão com uma fome de quem não come há uma semana a pensar na ida ao restaurante fino. E a imagem daquela travessa de cozido à portuguesa, com as couves a transbordar e as carnes a fumegar aparece-vos para vos ensombrar o resto do jantar.

A impressão que fica do "exquisite", "exquis", ou "esquisito" é esquisita.

20 setembro 2006

Turismo espacial...

Ao dia vinte de Setembro do ano da graça de 1519, faz-se ao mar, um português, ao comando de uma frota espanhola e cerca de duzentos e cinquenta marinheiros, iniciando aquela que foi a primeira circum-navegação.

Preparar um projecto com a envergadura de uma circum-navegação seria, sem dúvida, uma tarefa árdua.
A angariação de fundos envolvia jogos políticos entre as grandes potências da época.
Os interesses económicos, sobrepondo-se aos interesses científicos, ou mesmo a todos os outros interesses, levavam as cortes a despender dos seus cofres somas avultadas para a construção de navios armados.
Mas claro que, já naqueles anos doirados da história científica, a preparação de uma expedição exigia planeamento cuidado e bases científicas sólidas para permitir o seu financiamento.

Um dos recursos do nosso compatriota Fernão de Magalhães, foi o recurso ao turismo de aventura, pago com somas avultadas.
O italiano António Pigafetta foi o primeiro turista a dar a volta ao mundo. E a agência a que ele recorreu para organizar a viagem, assegurou a sua segurança, pois embora com algumas escoriações, foi um dos dezoito (18!) a regressar a Sevilha, no dia 6 de Setembro de 1522, na única nau sobrevivente – a Victoria – das cinco que desfraldaram as velas em 1519.

Por este episódio se vê que os descobrimentos da idade contemporânea são uma evolução natural do expansionismo da idade moderna. E até os métodos de financiamento foram mantidos.

Também começou naquela época a espionagem industrial, em que segredos tecnológicos de ponta foram vendidos aos adversários políticos e económicos da nação.
Foram os nossos compatriotas Rui e Francisco, irmãos de apelido Faleiro, os arquitectos da viagem que provou que este planeta é quase só água salgada e que conseguimos dar-lhe a volta sem assentar os pés em terra firme. Esses vira-casacas, nascidos na Covilhã, conseguiram arranjar maneira de calcular a longitude de uma forma fiável!

Mais ainda, já se registavam na altura, embora com o mercado ainda não regulado, transferências de jogadores, criados nas nossas escolas, para clubes estrangeiros. Grande parte da tripulação era portuguesa. Esta incluía também espanhóis, franceses, ingleses, italianos e gregos. Não é nova a tendência (ou necessidade) que o reino de Espanha tem para importar talento.
Estas transferências significariam os primórdios da colaboração científica?

Mais paralelismos serão possíveis, entre a época em que a Cruz da Ordem de Cristo ornamentou o topo dos padrões, que foram espalhados pelas terras novas, e a época em que umas dezenas de estrelinhas ornamentam uma bandeira hasteada na Lua.

Nota extra:
Foi o Rui que deu a dica ao Cristóvão.

19 setembro 2006

Chocolate...

Estava por aqui a degustar uns pequenos quadrados de um chocolate preto, enquanto martelava nas teclas a tentar juntar letras de modo a que fizessem algum sentido, quando me lembrei de uma notícia que li hoje. Esta dava conta de que um qualquer certame de moda, em Madrid, proibiu a participação de manequins demasiado magras, seja lá o que isso for.
Ora como tudo é relativo, o normal deles, ou até mesmo o cheiinho, já pode ser extremamente magro para quem tenha padrões de beleza decentes.

Reparei ainda que nestes últimos dois dias, não percebi ainda muito bem porquê, apareceram-me aqui e ali, algumas mensagens subliminares sobre este assunto.
Citações de blogues alheios no meu correio electrónico, notícias de jornal... espero que não me estejam a tentar dizer alguma coisa, é que nem sequer vou querer entender..
Não me meto nestes assuntos a não ser para provar a sobremesa como corolário de uma bela refeição.

Letras, palavras, frases... notas.

Um amigo perguntou-me se as notas não continuam soltas, porque na realidade as palavras são livres e a sua existência perde-se no tempo passado e futuro, não dependendo de nós.
Talvez seja verdade, talvez as palavras sejam livres mas a sua associação em ideias e notas está longe de o ser.
Regras sintácticas e gramaticais regem a linguagem de uma forma autoritária.
Os poucos corajosos dissidentes, que conseguem fugir à complexa estrutura linguística ou ganham prémios Nobel da literatura, ou apanham com ressonantes "Não Satisfaz" nas redacções. Os outros espíritos menos iluminados terão de cumprir as regrinhas todas se pretenderem comunicar.
Além disso o contexto é sempre indissociável. Quaisquer que sejam as palavras, estas só transmitirão correctamente a mensagem se o contexto for conhecido. Sobre este aspecto, deixem-me relembrar que a língua portuguesa, em particular, tem tendência a ser bastante traiçoeira. E em público também não se costuma fazer rogada para pregar uma rasteira!

Na minha humilde opinião nem as palavras são livres, coitadas. Estão dependentes de quem as conhece para sobreviverem e, como em tudo neste mundo, é a lei da selva que se impõe.
Neste caso não sobrevivem as mais fortes mas as mais simples! Sobrevivem as mais magras! As que conseguem aparecer mais vezes na passerelle das tecnologias modernas! As que cabem nos cento e tal caracteres permitidos pelo Serviço de Mensagens Curtas e se conseguem escrever com o polegar, usando dez teclas numéricas. E mesmo as palavras mais simples se tornam anorécticas ou bulímicas e ficam reduzidas a letras, tornando-se ainda mais reféns do contexto.

Por estas e outras temos uma língua ainda viva e novas palavras surgirão, associadas a novos contextos e a novas regras.
Camões teria hoje muitas palavras originais para o ajudar a criar epopeias.
Sempre que, por estar menos inspirado ou por ser meio zarolho, não conseguisse meter a palavra "bastante" na sua perfeita métrica decimal, onde provavelmente a palavra “muito” também não caberia e seria mais difícil de rimar, poderia sempre utilizar a palavra "bué" que é mais curtinha e rima na perfeição com "pois é".

Viajantes...

As maravilhas da engenharia de que falei ontem são as duas Voyager, sucessoras das saudosas Pioneer 10 e 11 que já estão muito para lá do Samouco e já não se conseguem ouvir.
Ambas as Voyagers estão ainda a funcionar perfeitamente e espera-se que continuem a dar sinais de vida até 2030. Está estimado que as Voyager 1 e 2 tenham combustível suficiente para se manterem activas até 2040 e 2034, respectivamente.
A 15 de Agosto último, a Voyager 1 ultrapassou a barreira dos 100 AU! E podia estar mais longe se não estivesse andado por aí a fazer gincanas.

Ah! Devem querer saber que 1 AU (Unidade Astronómica) é aproximadamente igual à distância média entre o Sol e a Terra. Em números que quase toda a gente entende (sim não nos esqueçamos que ainda há quem utilize os pés para medir distâncias, como se estivessem na praia a preparar balizinhas para jogar à bola): 1 AU = 149 597 870,691 quilómetros, que é realmente um valor astronómico!

Mais informação sobre estes objectos, que serão voadores não identificados para, seja lá quem (ou quê) que os encontre por aí:

http://voyager.jpl.nasa.gov/

18 setembro 2006

Lamúrias? Não...

Acho que sou optimista.
Não! Esperem, reformulo: Eu sou optimista!
Mas não sou tapadinho... e para o melhor e pior estou ligado ao mundo.

Hoje enviaram-me uma lista de prós e contras da humanidade.
Como a pessoa que a enviou, encontrou-se, depois do despertador tocar, em plena madrugada de Segunda-feira, é natural que a lista saísse distorcida e fosse bastante influenciada pela miragem de um fim-de-semana demasiado distante.
Por isso tenho de lhe permitir o devaneio de colocar apenas contras nesse conjunto de items, que se assemelhava a uma lista de compras de supermercado, onde nem faltavam algumas quantidades.
Vou aqui tomar a liberdade, concedendo todos os direitos de autor a quem de direito, se os quiser cobrar (e desde que não abuse!), de transcrever essa pequena lista, com a qual tentou rebater todo o meu optimismo.

" - Há guerras, guerrilhas e guerrilheiros em 4/6's dos continentes;
- Milhões morrem de fome, sede ou doença, porque não nos entendemos uns aos outros;
- Se de um lado chove, do outro faz vento, ou seja, para cada sr. Bin temos um sr. George;
- As calotes continuam a descongelar;
- e nem o papa se safa..."

(Reparem que até deixa os congelados para o fim.)

Concedo os primeiro toque, assumindo que não tenho resposta para isto e que para alguns problemas não parece ser possível encontrar uma solução tangível.
Mas depois disto estar dito acabou, a partir daqui é sempre a subir!

Podia, facilmente, acusar novamente a geração "cota" que neste momento está placidamente plantada ao leme deste globo, que só não navega à deriva porque o Sol exerce a sua atracção fatal e nos faz girar aqui num carrossel ano após ano.
Mas e depois? Isso seria simplesmente sacudir a água do capote e negar as responsabilidades que nos chegarão às mãos num futuro próximo.
Isso só acontecerá, obviamente, se eles acharem que esta geração já ultrapassou a adolescência... ou se esta geração se convencer que já tem idade para meter algum juízo (seja lá o que isso for) nestas cabecinhas doidas.

Ou seja, o Mundo estará salvo, porque alguém já está a começar a perceber que a coisa assim não vai lá.

Sendo que eu prevejo que a próxima grande guerra será por causa do petróleo e a seguinte por causa da água potável que sobrou sem ser contaminada, parece-me, no entanto, que essas coisas feias estão mais distantes.
Esta sensação de segurança não se deve à ONU, nem à OTAN, nem a nenhuma dessas entidades supremas.
Noto apenas que o meu pêlo deixa de se eriçar quando sinto que a malta que trata das matérias económicas parece estar a acordar para assuntos importantes. Aparentemente as empresas, as grandes empresas, os motores económicos, estão a ganhar consciência dos seus deveres sociais e ambientais. Por enquanto só aquelas que têm à frente gente com mentalidades diferentes e que vêm na protecção ambiental uma mais valia. Mas creio que o futuro está a chegar!
Começam a aparecer apostas claras em energias alternativas, limpas e eficientes. Isso abrandará o consumo de petróleo, cujos poços se prevê, de qualquer maneira, que estejam secos em menos de cem anos. Talvez logo aqui seja resolvida a terceira grande guerra.
E, eliminando essa, creio que a sábia Mãe Natureza têm poderes regenerativos suficientes para repor o ciclo da água a funcionar novamente como um relógio, mesmo sem precisar de ingerir iogurtes com sabores desagradáveis ao palato durante 15 dias.

Portanto, reitero a minha confiança na geração a que pertenço.

De qualquer das formas, se esta geração não der conta do recado, as que se seguem terão que se desenrascar! Aí, quando se está no limite, é quando o génio humano realmente se revela... no seu melhor e no seu pior... os extremos atraem-se e tocam-se.
Se esse momento chegar, este animal que se julga o ser supremo deste planeta azulado, saberá evoluir!


Notas às anotações da nota anterior...

Sim, esqueci-me de referir, falha minha, existem realmente muitas áreas onde a humanidade soube investir a sua criatividade. É realmente verdade que os efeitos especiais no cinema estão cada vez melhores!
O problema é que quem anda agora por aí a brincar aos realizadores, das duas três, ou não sabe o que fazer a tanta tecnologia, ou não tem a imaginação que tinham os grandes mestres dessas coisas. Haverá excepções mas não serão muitas.
De qualquer maneira também não me preocupo se a qualidade do cinema piora, é sinal que as mentes brilhantes estão ocupadas com outras coisas.

Ainda há esperança para a humanidade! Sim isso para mim é claro.
Para justificar esta afirmação digo apenas que, na pior das hipóteses e se a lei de Murphy não se aplicar fora deste grão de areia a que chamamos Terra, pelo menos uma das duas maravilhosas obras de engenharia que foram disparadas daqui para fora, há 29 anos, enviando para os confins do espaço o nosso rudimentar cumprimento, cairá nas mãos, ou no colo, ou seja no que lá for equivalente, de uma espécie verdadeiramente sábia e inteligente.
Depois de nos termos extinto, eles saberão reconstruir a espécie humana, através da sua, não infinita mas vasta, sapiência.

A propósito, sabem por onde é que andam essas duas maravilhas da engenharia? Ainda se lembram delas? Sim, ainda mexem!
Se não descobrirem amanhã digo-vos.



Para os mais pessimistas, um artigo de opinião que considero sustentada, no DN há alguns dias:

http://dn.sapo.pt/2006/09/06/economia/os_novos_verdes_dentro_e_fora.html

Podem ver que faz tudo parte do instinto de sobrevivência.

17 setembro 2006

A ver estrelas...

No dia 8 de Setembro de 1966, a cadeia de televisão americana NBC, emitia as primeiras ondas hertezianas do primeiro episódio de Star Trek.
Foi precisamente a celebração dos 40 anos desta série de ficção científica que referi na nota anterior e sobre a qual levantei algumas questões sobre a capacidade do génio humano.

Foi uma pequena nota interna da empresa onde estou colocado, que me fez reparar no assunto.
Num texto simples e curto, com meia dúzia de imagens, apresentaram uma comparação entre a tecnologia que a famosa série preconizava três anos antes do Neil pisar a Lua e a tecnologia que hoje temos à nossa disposição.

Ali estavam exemplos de coisas que agora não nos surpreendem mas que não deixam de ser "pequenas" maravilhas.

Alguns exemplos:

Star TrekActualidade
Construções no espaço

Enterprise atracada na doca seca - Star Trek

Estaleiros de construção - Star Trek

Discovery atracado à ISS - NASA

Reparação do Hubble - NASA

Estações Espaciais
Estação Orbital - Star TrekEstação Espacial Internacional (quando estiver completa) - NASA
Telescópios Espaciais
Rede de Telescópios - Star Trek

Telescópio Integral - ESA

Telescópio Hubble - NASA

Comunicações não espaciais
Communicator - Star TrekTelemóvel actual

O que eu acho que pode ser bem mais surpreendente, sobretudo para a geração anterior à minha, é que, com idas à lua ainda na década de 60, seria de pensar que no ano 2006 estaríamos já a viajar pela nossa galáxia, ou pelo menos no nosso minúsculo sistema solar.
Poderíamos perfeitamente marcar umas férias numa estância balnear de um qualquer planeta tropical, de um qualquer outro sistema "estrelar" (não posso dizer solar, porque Sol há só um).
Para quem apreciasse estâncias de Inverno, poderia dar uma escapadela de fim-de-semana até um qualquer planeta anão, como Plutão, nos confins do nosso sistema, seria logo ali.

Isto é ainda mais flagrante porque essa malta cresceu com séries como "Espaço 1999" e filmes como "2001 - Odisseia no espaço" que referem datas precisas.

Quando alguém mais susceptível à palavra "cota", incluída na minha mensagem, com a qual classifiquei a geração que nascendo nos longínquos anos 50 e 60, herdou a pilha de conhecimentos tecnológicos do pós-guerra (do pós-guerra fria! Não da outra.), afirmou que pertencia a uma geração corajosa, que "os teve no sítio e negros" para nos lançar na aventura espacial, notei o seguinte:

Depois dos Descobrimentos, iniciados por heróis portugueses que se lançaram aos oceanos em casquinhas de noz, a humanidade pareceu esgotar a coragem. Não perdeu o engenho mas também não se lançou no vazio com a mesma força com que enfrentou as tormentas de mares revoltos.

Notei ainda que:

A geração anterior à minha, a dos actuais "cotas", adormeceu à sobra (ou à luz) do "Peace and Love" e quase bloqueou a nossa aventura espacial. Em alguns aspectos podemos afirmar que a humanidade regrediu.Dois exemplos:
  • Estamos mais longe dos voos espaciais... ou melhor, vamos ficar mais longe dos voos espaciais depois dos Shuttles pararem em 2010. Substituto só em 2014 - o Orion - que, se tudo correr bem, será o primeiro veículo a poder levar humanos a outro planeta lá para 2050, depois do seu primeiro voo até ao pedregulho aqui mais próximo, previsto para 2020. Existem projectos comerciais em curso mas só para viagens sub orbitais e pouco mais (por enquanto).
  • O Concorde deixou de voar... isso representa um retrocesso brutal na aviação civil. Demoramos agora mais 3 ou 4 horas a atravessar o Atlântico e não se vê substituto no horizonte.
Quem diz que andamos sempre mais depressa e sempre a progredir? Já imaginaram o que aconteceria se a viagem Lisboa-Porto voltasse a demorar 6 ou 7 horas?

Outras áreas e ideias estão ainda por explorar. Tome-se como exemplo o caso dos combustíveis e sistemas de propulsão. Onde é que andam os reactores de antimatéria? E os motores Warp?
Os primeiros nove (sim 9) átomos de antimatéria foram produzidos em 1997 no Fermilab em Chicago e o International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER para os amigos), que se prevê se o primeiro reactor de fusão operacional, ainda está longe de produzir energia.
Então o que é que essa malta andou a fazer? Além de inventar as consolas de jogos e melhorar significativamente o desempenho das placas gráficas dos computadores?
A curva da evolução é estranha, acho que o Darwin ainda teria muito para estudar.

E eu que queria ser contrabandista só para poder ter uma nave do tipo YT-1300 freighter construida pela Corellian Engineering Corporation. E que jeito me daria poder dizer "Beam me up".
Essas ilusões... deixei-as cair... mas ainda tenho esperança de vir a confirmar com os meus próprios olhos, que este terceiro calhau a contar do Sol tem uma forma esférica.

Para os curiosos, mais informações e fontes das imagens:
Star Trek - www.startrek.com
NASA - www.nasa.gov
ESA - www.esa.int

Sobre a ISS:
http://www.nasa.gov/mission_pages/station/main/index.html
http://www.esa.int/esaHS/iss.html

Telescópio Integral:
http://sci.esa.int/science-e/www/area/index.cfm?fareaid=21

Telescópio Hubble:
http://hubblesite.org/

Uma última anotação a esta nota:
A nave do tipo YT-1300 freighter não pertence ao imaginário do Star Trek mas sim ao do Star Wars, onde um modelo destes entrou na história com o nome Millenium Falcon.

15 setembro 2006

Dos porquês...

Lembram-se de quando faziam composições na escola?

Que acham desse tipo de exercícios?
Sempre achei as composições mais interessantes que os ditados e as cópias. A principal razão é óbvia: detestava que me ditassem o que escrever quando me apetecia escrever outra coisa qualquer, o que acontecia com frequência.

(Já sei que qualquer mente iluminada que relacione este pequeno facto com a psicologia humana vai interpretá-lo como reflexo de uma personalidade irreverente e avessa a ser "mandada", talvez tenha razão, mas essa interpretação ficará para outro dia, hoje não estou para aí virado)

Gosto de escrever quando não tenho mais nada para fazer... e desde há muito que penso, confesso que estupidamente e sem motivo palpável, ter o dom da palavra.
Escrevia (e provavelmente ainda escrevo) textos idiotas, sem qualquer sentido. Cheios de perguntas retóricas que sabia a priori nunca possuírem resposta, ou que nem sequer deviam ser respondidas.

Por estas e outras, era meu costume pensar que estas mariquices dos Blogs não eram para mim. Nunca fui muito em modas e ir com a corrente nunca me motivou.
Esta cabecinha tinha a sua ideia muito própria sobre estas comunidades de escrita e leitura que, na sua versão simplificada, partia das seguintes premissas:

  • Os que escrevem são uns frustrados que: ou não têm mais nada que fazer, ou pensam que são jeitosos.
  • Os que lêem são uns frustrados que: ou não têm mais nada que fazer, ou pensam que os outros são jeitosos.

Claro, generalizações absurdas! Vá-se lá perceber porquê...

Influências...

Houve nestes últimos dias uma influência, ou confluência estranha, de três personalidades que possuem capital intelectual suficiente para que lhes conceda crédito.
Sem o saberem, determinaram que esta minha mentalidade tacanha se abrisse a este conceito, já enraizado no mundo digital, com o qual eu nunca me identifiquei.
Um, usando da sua experiência e visão económica, anuncia, ainda que infelizmente com data incerta, a criação do seu Blog pessoal. Pretende com isso matar não dois mas vários coelhos com uma só cajadada:

  • Tranquiliza o mundo anunciando publicamente que ainda vive e pensa - cada actualização do seu diário será esperada com ansiedade e recebida com satisfação por aqueles que o conhecem e lhe querem bem. Poupará anos não escrevendo uma enorme quantidade de mensagens individuais.
  • Alivia um pouco a pressão - isto é qualquer coisa que pode funcionar como válvula de escape. Pregar umas marteladas nas teclas sabe bem e fazê-lo de forma a exprimir o seu estado de espírito ainda sabe melhor. Pode ser terapêutico.
  • Anota ideias e partilha-as - com isso não só ajuda a sua própria memória, que como tantas outras, vai sendo menos fiável há medida que envelhece, como também permite que (alguns) terceiros abdiquem de pensar, pois terão já tudo pensado, escrito e anotado.
  • etc. - sabe-se lá o que passa naquela cabecinha... por vezes surpreende!

Um segundo, encetando comigo uma conversa semi-filosófica, aquando da celebração de uma efeméride cultural, demonstra que a sua esgrima argumentativa está, como habitualmente, em boa forma mas, cedendo pontos aqui e ali, permitiu-me sentir que talvez tenha estofo para algo mais.

Um outro, resumindo humildemente e com clareza e o que pensa sobre o que pensa (ou não) uma elevada percentagem da população mundial, assumindo-se como crítico do sistema, numa comunicação em que se podia respirar o seu pessimismo, comete o erro de fazer um elogio rebuscado à minha geração e à minha juventude. Erro porque legitima a minha escrita e isso poderá ser fatal para quem a lê.

Assumo aqui publicamente e sem reservas, que se alguma destas ilustres cabecinhas resolver alguma vez partilhar as suas ideias, seja em que meio ou de que forma for, serei um leitor assíduo.

Da destreza...

Estando fora do pequeno mas precioso rectângulo ibérico que me viu crescer, sinto que estou a esquecer palavras que por lá são ditas e escritas. Outras, de outras línguas, estão a ocupar o seu lugar.
Ora o jogo das palavras, como qualquer outro, para se jogar bem é preciso praticar!
Suplantando quaisquer outros motivos, é esse jogo que me atrai. E não quero, também neste, perder a pouca agilidade que tenho, ganhando uma camada de gordura sobre uma musculatura enfraquecida.


Hoje convenci-me de vez!

Deu-me na tola!

Apeteceu-me!
Não digam que nunca vos aconteceu.
Ter um ataque daquelas ideias malucas, das quais não nos arrependemos, mas com as quais ficamos seriamente preocupados com a nossa saúde mental.

Esta foi uma delas!
Agarrar notas soltas que brotam destes poucos neurónios, agarrá-las e prendê-las a um Blog!
Pensamentos despreocupados e inocentes que são enclausurados e expostos ao mundo como se de tivessem feito mal a alguém.
Agora está feito!
Vamos ver se, feito o anúncio, esses devaneios da mente, ainda têm vontade de continuar por aqui aos pulos com a mesma força bruta com que me assolam o espírito.