02 abril 2007

Terra...

No outro dia fui até à terra.
À terra que me viu crescer e onde já não ia há muito.
Estava diferente.
As pedras pareceram-me mais pequenas e as árvores menos familiares.
A água do rio é outra.
O rio não é o mesmo.

O casario de xisto abandonado resiste às intempéries.
Com as janelas e as portas escancaradas e as lajes dos telhados a fugirem do sítio, se a viga de castanheiro ainda não cedeu.

O caminho, agora ladeado de silvas, ortigas e outras plantas danadas ainda conduz à fonte.
Fonte onde ainda corre a mesma água, num fio de prata cristalino.
Água que tem o mesmo sabor fresco e leve dos tempos que já lá vão.
Leveza duma infância cada vez mais distante.

Mas a natureza é Mãe.
Mãe forte que faz e desfaz.
Que limpa e arranca pela raiz, renovando.

Passou a cheia depois do incêndio.
Limpou o cimento deixando apenas as pedras negras como se fossem novas.
As cinzas escorregaram pela encosta e foram levadas pela torrente de lama.
As árvores tombaram, desenraizadas.
Poucos peixes nadam no rio.
Só as pedras continuam no mesmo sítio.
E essas seguram-me as memórias.
De quando pulava por cima delas.
E tudo começa de novo.

Nada é jamais igual.
As coisas mudam.
Eu mudei.
Adaptei-me a um mundo que nem é o meu.
A uma terra... a outra terra.

A minha terra estava diferente.
E este tempo todo estive tão longe.
Mas senti-me mais perto, tão mais perto, quando lá voltei.
E tão mais longe quando de lá regressei.


Dedicatória:
Agora que peguei a moda, dedico esta nota que acabei de prender à Carolina Ó-i-ó-ai. Que, tal como eu, se sente mais próximo de casa por ver o nome da sua terra escrita num mapa.

Pequena nota para os outros:
Qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência.