17 novembro 2006

Rituais...

Hayat Uma dançarina semi-profissional procurava para o seu grupo um guarda-costas, para conseguir manter na linha alguns homens e provavelmente também algumas mulheres, durante e depois das suas actuações.
Este é um grupo composto, acho eu, exclusivamente por elementos femininos, que se dedica a divulgar as danças orientais e outros estilos exóticos semelhantes.

Esta necessidade de protecção externa é, quanto a mim, paradoxal.
Não é a dança uma forma explícita de provocação? Uma evolução natural e um aperfeiçoamento de rituais de acasalamento que estão encrostados no nosso subconsciente animal?

Ora, as meninas com umbigos à mostra, que abanam sensualmente os rabinhos e outras partes protuberantes dos seus corpos, ao som de músicas hipnóticas, não podem esperar que todos os machos que assistem ao espectáculo se comportem devidamente.
Claro que uns resistem melhor que outros aos instintos primários, mas qual seria o objectivo de quem inventou essas danças?

Agora chamam a este tipo de demonstrações da natureza – manifestações culturais. Neste domínio, como noutros, a humanidade tenta disfarçar as suas origens e contrariar os postulados de Darwin mas, como se vê pelas reacções das plateias a estes espectáculos, não se podem negar os factos nem repudiar a natureza.Hayat

À excepção da dança da chuva, criada com propósitos bem definidos que nada têm a haver com o acasalamento, e do folclore que, salvo raras e honrosas excepções, é composto por lindas mulheres de barba rija e bigode que não precisam de guarda-costas, todas as outras danças são provocatórias!

Embora os homens prefiram provocar as mulheres com outros tipos de actividades, é certo que não são só elas que provocam com a dança.
Eu não compreendo muito bem o fenómeno, mas uma grande maioria das mulheres trepa às paredes ao ver o Joaquim a bater com os saltos altos no chão e a fazer salamaleques com as mãos.

Por razões óbvias eu não escolheria o flamenco. Escolheria uma daquelas danças sul americanas em que se pode dar um uso mais sensato às mãos – o tango.

Não sei qual a opinião dos estudiosos, historiadores e outros que tais, sobre as origens dessas danças. Tenho a sensação de que os primeiros homens a dançá-las, fizeram-no com o instinto protector mais primário – proteger o direito à procriação.
É fácil imaginar uma bela mulher, comprometida, dançando com uma racha no vestido ao som da concertina, ser alvo da cobiça de outros homens que não o seu.
É também possível imaginar o homem a tentar proteger a sua conquista, chegando-se à frente e acompanhando a dança, mostrando de forma clara à concorrência que é o eleito.

A dançarina, que referi ao início, afirma que o tango é sexual e por isso muito violento.
Esta consideração dá azo a várias interpretações e pode ser, só por si, tema para muitas longas conversas.
Para concordar parcialmente com esta teoria, posso admitir, que o tango é de uma grande violência física.
Mas considero mais grave a violência psicológica, crua e sem pudor, que as senhoras das danças orientais praticam sobre a assistência.

Qualquer homem compreende que um par que dança um tango forma um todo completo e fechado. Mas assistir a um conjunto de corpos femininos ondulantes, sem lhes poder tocar, pode ser demasiado duro.
Hayat

Um homem, ou uma mulher, não gosta de tango normalmente por ciúmes.
Um homem, mesmo que dê outras desculpas plausíveis, não gosta de danças orientais porque não pode fazer mais do que ver e imaginar.


 
Anotem que eu prometi publicidade:
http://www.dilshadance.pt/

E as meninas estão disponíveis para apresentar o seu trabalho em animações e espectáculos.
O grupo está descrito aqui:
http://www.dilshadance.pt/judite.php?a=5

4 Anotações:

Yosemite Sam anotou...

Obrigado Hayat pela inspiração.
Esta foi para ti.

Unknown anotou...

yosé mites sam e dá nesta confusão, menino!...este texto só podia mesmo ser escrito por um homem...
Começando plo início: do meu conhecimento, de todas as pessoas que se movem no mundo da dança, só se consideram DANÇARINOS as de danças de competição- como as danças de salão; todas as que nao se incluem neste pacote consideram-se BAILARINOS... para mais, infelizmente, as danças orientais ainda têm uma conotação menos...artistica e portanto vamos chamar os bois plos nomes- BAILARINAS DE DANÇAS ORIENTAIS- que, embora sejam exóticas no sentido em que apresentam uma arte performativa algo fora do comum, NÂO são bailarinas exóticas, como hoje se entende- que fique bem claro!
Continuando, meu caro, a dança pode até ter nascido como ritual de acasalamento, tudo bem. Mas algures no nosso percurso evolutivo nós deixámos de ser peixinhos e tornámo-nos um bocadinho mais evoluidos (..plo menos alguns de nós!) e trouxemos a dança do «mundo das trevas» para a luz; ela evoluiu connosco e deixou aquele propósito arcaico...e ainda nem passei da Pré-história, atenção!...
Gostava de entender o que é para ti a dança...o que é para ti o folclore...qual é a diferença entre os 2...o que faz da dança da chuva uma dança menos...dança (que é o que tu transmites, que a dança da chuva nao está bem no mesmo pacote que as outras...)
A dança está desde sempre ligada ao Homem- é a nossa 1ªlingugem e forma de comunicação (entre nós e entre nós e os Deuses...será que os nossos avós estavam a fazer um ritual de acasalamento para os Deuses? será que os estavam a tentar provocá-los?...seduzi-los, eventualmente, mas nao na perspectiva de que falas!) Para mim, a dança é tudo o que é movimento e, sendo assim, só se quiseres acasalar é que fazes um ritual de acasalamento!...sinceramente nao te imagino a bater com os tacões(!) no chão quando é esta a tua intenção...o ritual será talvez outro...
Assim, tu levas para a tua dança as tuas intençoes e os teus sentimentos. Como as intençoes dos bailarinos não são, geralmente, de provocar- no sentido que estas a invocar- a dança deixa de ser o ritual de acasalamento...um bailarino pode transmitir tanto mais...(atençao que eu estou a referir-me a dança improvisada, movimento proprio e nao a um espetaculo que tem ja a sua história!)...mas por isso, por vezes, um bailarino pode ser brilhante tecnicamente e tu nao gostares particularmente- ou nao gostares ponto e nem sabes porquê..outro podes adorar e nem tem uma tecnica tao forte...tem a ver com o que eles têm dentro do «invólucro» e que transmitem, porventura...
Agora, se um espectador nao consegue «resistir aos instintos primários» é porque ele nao esta a ver a ver a DANÇA, a ARTE e nao esta a conseguir ouvir o que lhe diz o bailarino, nao esta a entender a linguagem, nao esta interessado no diálogo- por isso quem consegue ouvir, chora emocionado, ri extasiado ou se sente simplesmente pleno (se gostar do que vê/ouve/sente, veja-se).
E para informaçao, as Danças Orientais são assim chamadas- no plural porque englobam um leque mais ou menos vasto de danças onde se incluem os clássicos e também o folclore de todos os países do médio oriente e norte de africa, assim como todas as fusões possíveis e imaginadas. Portanto, falar da dança da chuva como uma forma menor ou menos válida e do folclore como uma coisa sem-saborona e cheia de pêlo-na-venta, meu amigo...nao é bem assim...
Espero que venhas ver-nos brevemente para que ouças e sintas o que transmitimos tanto nos clássicos como no folclore...depois falamos novamente e vemos se ainda pensas assim.. =) *Hayat*

Yosemite Sam anotou...

O folclore a que me referia era só o folclore português... àquelas danças que são dançadas, por todo esse Portugal, por grupos folclóricos.

Nem a dança da chuva nem o folclore são maiores ou menores que as outras danças, têm somente propósitos diferentes.

A dança da chuva foi inventada para fazer chover. Talvez isso fosse também considerado pelos deuses como uma provocação e que por isso deixavam cair uns baldes de água para calar o pessoal.

O folclore português, não sei exactamente qual terá sido o propósito, mas se eu tivesse poderes divinos fazia chover picaretas se isso os calasse.
Fica aqui portando clara a minha posição sobre este tipo de arte popular portuguesa: não gosto de ver dançar o vira nem outras coisas desse género e ainda gosto menos de ouvir aquelas vozes de cana rachada, que me furam os tímpanos e fazem ressonância na minha caixa craniana.
Quando acompanhadas por ferrinhos, assistir a uma actuação dessas, torna-se um suplício.
Só o corridinho é que sou capaz de suportar, mas só porque gosto de ver as ceroulas das meninas quando fazem aquelas piruetas ao pé-coxinho, é um exercício difícil.

Obrigado pelo esclarecimento tão detalhado. Para mim as bailarinas dançavam só Ballet, as intérpretes de todas as outras danças para mim eram dançarinas... tem a haver com a etimologia das palavras... peço desculpa, às vezes a língua prega-nos destas partidas, deixa de ser intuitiva.
Fiquei, no entanto, sem perceber exactamente o que são “bailarinas exóticas – como hoje se entende...”.
O que eu escrevi foi que os estilos divulgados eram exóticos, não me estava a referir às bailarinas e não queria ferir susceptibilidades.

De resto, não sei se já chegámos a um estado de evolução como dizes... talvez lá no oriente... pelo menos ainda não por estas bandas. Se já tivéssemos atingido essa plenitude cultural não necessitavam de guarda-costas, nem agressivo nem passivo.

Sabes que me interesso pelas culturas orientais, como me interesso por outras. Sou pelo menos um curioso e por isso gosto de aprender, integrar conhecimento é sempre útil, dá-nos uma perspectiva diferente das coisas e isso pode fazer a diferença. Aceitarei portanto com prazer o desafio para ir ver um espectáculo vosso.

Anónimo anotou...

Uma nota interessante, se bem que inesperada, e respectivo comentário, (à-letra-que-é-para-aprender).
Contudo, civilizações, evoluções e culturas à parte, cá por mim continuo a achar muito mais piada às danças que é necessário fazer numa qualquer rua de Lisboa quando chove. Aí sim, queria ver qual seria o dançarino/bailarino, (exótico ou não), quem se batia com qualquer alfacinha de gema.
Dirão vocês: "Grande bruto que não aprecia a arte", mas que querem... Ver gente aos pulos, seja num palco ou num terreiro frente a uma cubata qualquer, cá para mim só significa que pelo menos eu já aprendi a andar correctamente em público...
Provocações à parte...
:p