16 novembro 2006

E2-E4...

E o primeiro soldado avança pelo campo de batalha contra o inimigo!

A surpresa no acampamento hostil dissipa-se depressa, as hostes agitam-se e pegam nas armas. Um soldado dá dois passos à frente empunhando a espada, incitando os companheiros.

Mais homens a pé se lançam pelo campo, de um lado e doutro, sob as vozes de comando dos generais, orientados pelos seus estrategas.

Uns e outros aceleram o passo ao aproximarem-se. O choque é violento, é brutal!
Digladiam-se na planície e dão a vida, lutando por causas que não compreendem mas que tomam como suas.

A artilharia está demasiado distante, ainda não se faz ouvir.

Avança a cavalaria, fazendo tremer a terra, marcando os cascos no solo, convergindo dos flancos para o centro, onde se abriram as primeiras brechas nas linhas de infantaria.

Na retaguarda procedem-se a ajustes de posicionamento, protege-se a corte.
E os canhões ecoam com estrondo!
As paliçadas sofrem os primeiros rombos.
Na planície o sangue mistura-se com a lama.
Os uniformes já mal se distinguem.
Os estandartes que ondulavam, orgulhosos nas pontas das lanças, e se agitavam em sinal de ameaça, arrastam-se pelo chão debaixo dos pés dos que combatem e dos corpos dos que tombam.

E um dos lados recua, sofreu já demasiadas baixas, tenta proteger o seu último reduto com as altas patentes que sobram.
E o outro lado avança, a sua estratégia está a dar os seus frutos e as elites querem colhê-los pessoalmente.

Num último acto de coragem um sacrifício é feito, mas logra apenas atrasar um pouco a derrota eminente.
O cerco aperta-se, o último golpe é dado.
Soam as trombetas e os clarins! Grita-se vitória! Chora-se a derrota!
E a brisa transporta o cheiro da batalha anunciando-a ao mundo.

As origens desta batalha confundem-se com as origens do tempo mas continua a ser travada com a mesma ferocidade.

Perdi o jogo, mas não guardo mágoa nem rancor pois foi bem jogado.
Jogo que foi jogado sem peças, num exercício para mim inédito.
Auxiliado apenas por uma cábula, onde anotava as jogadas que eram debitadas ao estilo da batalha naval, e por um pequeno desenho de uma matriz oito por oito, bati-me como pude com um adversário superior.

Gostei da experiência, tenho de agradecer ao meu oponente o desafio e pedir que me conceda a possibilidade de desforra.

1 Anotação:

Yosemite Sam anotou...

Como houve dúvidas sobre que jogo se tratava reproduzo aqui a minha cábula...

E2-E4; E7-E6; D2-D4; D7-D5; E4-D5; E6-D5; F1-D3; G8-F6; G1-F3; B8-C6; o-o; F8-B4; C2-C3; B4-A5; C1-E1+; C8-E6; F3-G5; D8-D6; D1-E2; C5-E6; F7-E6; E2-E6+; D6-E6; E1-E6+; E8-D7; D3-F5; F6-H5; E6-H6; D7-E7; H6-E6; E7-F7; C1-G5; A8-E8; E6-E8; H8-E8; G1-F1; A5-C3; B2-C3; C6-A5; B1-D2; G7-G6; F5-D7; E8-H8; A1-E1; C5-G7; E1-E7+; F7-F8; G5-F6; G7-F5; E7-E8+; F8-F7; F6-H8; H5-G7; H8-G7; F8-F7; D2-F3; A5-C4; F3-E5; C4-D2+; F1-E2; D2-E4; E8-E7; G7-F6; E7-E6; F6-F5; E6-G6+; G6-G4++

Assim até parece complicado... e é! Jogar xadrez assim não é fácil, pelo menos para mim.