16 novembro 2006

Água-pé...

Esta história da globalização afinal até nem é difícil de visualizar.
Eu até já nem era contra, pois creio que a globalização abre uma infinidade de oportunidades e permite-nos sonhar com a conquista do mundo, como já não sonhávamos desde os descobrimentos.
Aliás os portugueses são dos primeiros responsáveis pela globalização. Depois de vários impérios surgirem e cairem nesta região restrita que vai da Pérsia à Mauritânia, os oceanos que separavam o mundo acabaram por o unir.

Esperem, este foi um raciocínio demasiado rápido, estou um pouco perdido... deixem-me descançar um bocadinho e pensar no que é que eu queria dizer...

Ah! Já sei!

Quando se pensa na globalização, esta está, normalmente, relacionada com a economia.
O aquecimento global também é um efeito globalizado mas ainda não está bem absorvido globalmente.

Mas a globalização é mais que isso... é a convergência de costumes e cultura.

Discute-se agora por aí o futuro da Europa e o seu papel no mundo.
Devido ao seu peso económico e sobretudo à sua história, a Europa, como um todo, como União, é ainda respeitada. Mas cada país europeu tem o seu passado e orgulho histórico e não é capaz de assumir compromissos que possam abalar as suas fundações e muito menos as suas crenças e costumes.
Isto é uma falácia, uma Europa unida não implica que os países que a formam abdiquem das suas identidades, mas exige realmente uma maior abertura cultural.

Devo estar mesmo bêbado para me por a divagar sobre isto a estas horas.

A justificação é simples, descobri a prova final que os povos europeus têm as mesmas raízes, sejam elas latinas ou góticas. A distância temporal a que nos encontramos dessas origens permitiu à Europa criar uma mistura fina de cultura, como na criação de um bom vinho onde as castas são seleccionadas e misturadas nas proporções adequadas.

Pois é exactamente o vinho, ou a tradição vinícola, que me faz divagar sobre este assunto.

Hoje, a terceira quinta-feira de Novembro, é o dia da chegada do Beaujolais Nouveau, um vinho novo, pisado este ano, numa região ao redor de Lyon, na França.
É um acontecimento nacional, se não mesmo mundial, quando segundos depois da meia-noite, milhares de garrafas deste vinho começam a ser distribuidas por toda a França e são exportadas para os lugares mais recônditos do mundo.

Este vinho é considerado, mesmo pelos nativos, como horrível, mas o ritual que se faz ao seu redor leva a que o seu consumo seja obrigatório.
Come-se e bebe-se entre amigos... Onde é que já vi isto?

Ora, isso mesmo - água-pé - a primeira abertura dos barris com a colheita do ano, aquela mixórdia fraquita que é consumida a granel acompanhada de castanhas.
O mesmo sabor a uvas mal fermentadas. A mesma festa em volta dos enchidos e outros sabores activos para disfarçar o gosto azedo do líquido grená.

Não é verdadeiramente um magusto de S. Martinho, não há tanta castanha nem jeropiga, mas há o mesmo espírito.

As pequenas diferenças que nos separam são ultrapassadas pelas semelhanças que nos unem. Afinal somos europeus, integramos uma comunidade maior e representamos um enorme legado cultural no mundo, numa sociedade globalizada.
É uma responsabilidade, não necessariamente um fardo.

...

Não sei se escrevi alguma coisa de jeito... não estou em condições de rever o texto.
Não provei o Boujoulê Nuvou do ano passado, mas o desde ano até nem é mau.
Os indígenas que me acompanharam nesta expedição cultural referem, após esvazearmos umas garrafitas, que já beberam muito pior, que este até se assemelha a vinho.
Racho reforçado que termina com aguardente destilada do mosto...
hum... falta a integração de um marco incontornável da cultura espanhola - la siesta.

1 Anotação:

Anónimo anotou...

Beaujolais Nouveau e siesta, "notas extensas" às 16 horas... riquíssimo emprego. Vive la France!!!