14 novembro 2006

Pontes...

Num pavilhão que me fez lembrar o saudoso mas já arrasado Dramático, estavam montados um palco e uma enorme parafernália de luz e som, enquadrados por cortinas negras, que prometiam encandear e debitar muitos decibéis.

Com cervejas nas mãos tagarela-se alegremente entre amigos, enleados em novelos de fumo hipnotizante, enquanto se aguarda pela subida ao palco de uma banda que foi cabeça de cartaz no Japão, no Verão de 1972.

O chão e o peito vibram com as frequências do baixo e os efeitos do órgão, os pés batem o ritmo do bombo, a cabeça agita-se com o solo de guitarra, braços erguidos, olhos semi-cerrados e os lábios a declamar palavras mudas.
A música estridente, com a batida bem forte, faz saltar... gritam-se as palavras que sabemos num inglês que não se ouve... fazemos parte do espectáculo e sentimo-nos bem!

Alguém enrola um charro, alguém acende um cigarro, alguém se embebeda, alguém grita, alguém ri, alguém beija... rituais que se repetiram no passado e se repetem no presente.

Tiro-lhes o chapéu e faço-lhes uma vénia. Quase com idade para serem meus avós, os Deep Purple e outros que como eles passeiam a sua música e virtuosismo pelo mundo durante anos e décadas, são ainda capazes de construir pontes entre gerações dissonantes e mostrar-nos que há muito para aprender de quem nos tem para ensinar.
Já não se faz música assim... mas ainda se ouve música assim.


Notas:
Este concerto dos Deep Purple foi hoje, no Palais Nikaia em Nice, França. Talvez não como foram os concertos de Osaka e Tóquio em 1972, que deram origem à gravação ao vivo mais vendida de sempre, mas com brilho.

DramáticoO antigo pavilhão do Grupo Dramático e Sportivo de Cascais acolheu vários concertos da pesada e muitos músicos e grupos emblemáticos, a lista seria demasiado grande para aqui ser esmiuçada.

Já me perguntei várias vezes: Qual o grupo ou artista que, chegado há pouco ao topo, continuará a juntar multidões daqui a 30 anos? Afinal se a geração cota sabia e sabe o que é música... podiam tentar evitar que os netinhos ouvissem coisas menos próprias aos ouvidos, não censurando mas mostrando o que é bom.
Entusiasmo não falta, tal como o Calvin a ouvir os canhões da 1812, haverá por aí muito miúdo a querer ouvir música clássica... basta tirarem-na do baú e limparem o pó, que mesmo empenado o vinil ainda toca.
Aumentem bastante o vOLUME! ELES VÃO CURTIR!!!

1 Anotação:

Anónimo anotou...

Os Deep Purple...
Li uma frase que é uma pérola: "Já não se faz música assim... mas ainda se ouve música assim" - bem conseguida, sem dúvida!!!
Qual o cota que não se lembra dos Pink Floyd? Qual deles nunca adormeceu ao som dos Moody Blues? Quem não gostou dos Génesis? E dos Supertramp? E outros ainda... os tais que "faziam música assim...", a dos "seventies", a melhor música de sempre!
Ainda bem que os putos continuam a gostar, ainda há bom gosto! :)
Um abraço.