28 novembro 2006

Língua viva...

Se toda a gente que é gente fala da TLEBS, porque é que eu não posso mandar também umas bocas?
Posta esta questão existencial, fui tentar perceber o que raio é que é a TLEBS.

Foi esta tarefa extenuante, um empreendimento na busca de novo saber, que me manteve afastado deste bloco de notas deste a última anotação.
Ou foi isso ou aquela última nota presa, com aquelas fotografias catitas, merecia mais um tempo de destaque.
Escolham a desculpa que menos vos afecta a forma como apreciam estas doidices que para aqui escrevo.

Após afadigada pesquisa, uma azáfama, cheguei à conclusão que TLEBS, ao contrário do que muitos pensavam, é a sigla da nova abordagem do Ministério da Educação de Portugal ao ensino da nossa Língua Materna... que é do lado da mãe portanto (deve ser uma tia avó que eu desconheço, os ascendentes daquele lado da família são numerosos).

Estava eu a dizer, antes de me distrair com a minha costela alentejana e me perder a contar as tias avós a quem fui obrigado a dar beijinhos nos últimos trinta e cinco anos, que a TLEBS é a nova técnica para o ensino do Português nas escolas.

TLEBS – Terrorismo Linguístico para os Ensinos Básico e Secundário – é a nova estratégia de combate ao analfabetismo dos pirralhos e pirralhas de Portugal.

Para não ferir susceptibilidades, numa altura em que o mundo receia dizer, escrever, ouvir e ler determinadas palavras, o Ministério da Educação, muito acertadamente, alterou a designação oficial da TLEBS para algo mais suave: Terminologia Linguística para os Ensinos Básico Secundário.

Eu nem sabia o suficiente para ter positiva na prova global, no final do secundário, mas mesmo que o meu nível de conhecimento, sobre a língua em que escrevo, fosse o bastante para que percebesse exactamente o que representam alguns dos conceitos que se aprendiam antigamente, não conseguiria nunca atingir o nível exigido para captar alguma coisa do que fala a TLEBS.
Notem que ao antigamente não me estou a referir à antiga Quarta Classe, que eu escrevo com maiúsculas por deferência, mas ao meu tempo de liceu, em que havia uns sujeitos, alguns predicados (uns mais próprios que outros) e muitas hipérboles, parábolas e outros conceitos matemáticos. Esta foi também a altura de alguns neologismos que sobrevivem ainda hoje e dos quais a minha geração, estupidamente, se orgulha.

Mas percebo a estratégia. A ideia luminosa, realmente brilhante, daquele grupo de estudiosos da língua é verdadeiramente astuta.
Eu sei que à primeira vista é difícil ter essa percepção mas, descontada a aversão natural ao desconhecido e à mudança, à medida que vamos compreendendo menos das novas terminologias, nomenclaturas e definições, inscritas no documento que o Ministério pretende impor, a coisa começa a fazer sentido. A sério!
À medida que as explicações, elucidações, explanações e esclarecimentos propostos pelo grupo de trabalho dedicado a ajudar os ignorantes professores, alunos e curiosos que, coitados, não percebem patavina do que eles querem dizer com aquilo, a coisa vai ficando mais clara. Mesmo!

A minha teoria é simples, eles querem acabar com o mal pela raiz.
Ou seja, se um dos problemas identificados é a ignorância, por parte de alguns alunos e professores, das boas regras gramaticais, sintácticas e semânticas, da bela Língua que é o Português, com a introdução desta estratégia de guerrilha, ou terrorismo, o ministério assegura que todos os outros que ainda sabem o que é um substantivo, ou mesmo um advérbio, vão deixar de saber. Nivela-se o sistema.

A outra hipótese, não desprezável, é interpretar estas ideias chanfradas como um processo psicológico.
No fundo eles estão a tentar motivar alunos e professores.
Subtil e sub-repticiamente, ao inventarem estes nomes novos e estas novas ferramentas de dissecação linguística, eles introduzem nas cabecinhas frescas dos alunos a ideia de que: “Porra pá! É muito mais melhor bom aprender a gramática velha! Se os gajos acham que a gente não precebe nada do assunto ainda vão prá frente com a reforma e metem pra lá aquelas patacoadas e então é que ninguém precebe peva!”

Eu, sinceramente, estou mais inclinado para a hipótese de querer nivelar a coisa. Afinal acaba tudo por ser uma questão estatística, se houver boas notas a Inglês e a Francês até afirmamos que nos estamos a integrar na Europa e a mergulhar de cabeça na Globalização.

A árdua pesquisa efectuada demonstrou-me, sem margem para dúvidas, que a TLEBS não se debruça só sobre o estudo da língua. É muito mais abrangente que isso! Fala também sobre a Fauna, a Flora e a Fé(1), classificando, por exemplo, as aranhas como animais inferiores e deixando a nossa fé determinar se as plantas e alguns bichos são animadas ou inanimadas(2).
Infere ainda sobre a biologia e a variação de sexo dos animais... aos humanos não o admite(3).
Pode-se aprender muito lendo apenas o compêndio de perguntas frequentes!(4).

Percebi que a TLEBS serve ainda outro propósito nobre e elevado: ser assunto de chacota em colunas de jornais e revistas, servir de tema a tipos como eu, desinspirados.

Outra característica importante da TLEBS é a demonstração de que é possível escrever e falar em Português sem que os portugueses percebam.

Entretanto, o Terrorismo Linguístico parece que veio para ficar. As editoras de livros escolares, tal como as empresas que fabricam equipamentos de segurança, aumentaram já as linhas de produção para responder ao enorme volume de negócio que estas medidas drásticas anunciam. O clima do medo instala-se.

Resumindo, parece-me a mim que é tudo uma evolução natural. Afinal os romanos também consideravam o Latim uma língua viva.



Notas numeradas:

(1) - Três efes lembram-me qualquer coisa... o primeiro a adivinhar, em quais os efes que me passaram pela cabeça, ganha um doce.

(2) e (3) - Além dos endereços, transcrevo os excertos, em que me baseei para retirar as minhas brilhantes conclusões, antes que eles se apercebam das piadas que escreveram e bloqueiem o acesso.
São apresentados por ordem:

http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/CDPerguntasFrequentes/B3-005.htm
“A classificação atribuída às plantas, como aos animais inferiores (ex. aranhas), depende muito do conjunto de crenças individuais e das características culturais de uma sociedade.”

http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/CDPerguntasFrequentes/B3-008.htm

“Os nomes epicenos e os sobrecomuns não têm as mesmas propriedades. Embora os dois tipos refiram nomes de entidades animadas, passíveis de distinção de sexo, os epicenos referem animais e admitem variação de género realizada por composição (cf. cobra-macho, cobra-fêmea) e os sobrecomuns referem entidades humanas e não admitem qualquer tipo de variação de género.”

(4) - O endereço para as perguntas frequentes:
http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/CDPerguntasFrequentes/001.htm

Onde se encontram algumas verdadeiras pérolas, por oposição às pérolas artificiais ou criadas em viveiros.
Refiro que nem tudo é mau... eles também propõem simplificações a coisas complicadas, veja-se o exemplo em:
http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/CDPerguntasFrequentes/B4-002.htm


Para quem tiver mesmo paciência, e para parecer que fiz uma vasta pesquisa:

http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/terminologia.asp


http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/GramaTICa/gramatica.htm

http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/CDMateriaisDidacticos/tlebs_mat_exp.htm

1 Anotação:

Anónimo anotou...

Esta nota parece acabadinha de sair da TLEBS... confusa e rebuscada demais. Tanto pesquisaste que te deixaste contaminar.
Vá lá, simplifica!
Abraços