18 dezembro 2006

Novo Reino...

O Mundo é redondo e gira.
Roda em torno de si próprio.
Ciclo que marca o compasso da vida.

E o movimento é pleno, circular.
A noite encontra o dia e o dia mergulha na noite.
Cão que corre atrás da sua cauda.
Pescadinha de rabo na boca.

E no fim voltamos ao princípio.
Do princípio partimos para o fim.

E as ilógicas sequências de acontecimentos rodopiam e tornam-se evidentes quando alargamos a escala temporal.

Camões, esse “Príncipe dos Poetas”, essa luz maior no firmamento da nossa cultura, eternizou a epopeia portuguesa. Verso após verso, estrofe após estrofe, encerra nos Lusíadas várias revoluções do globo e conclui um ciclo da história.

A sua obra-prima é, segundo reza a lenda, inspirada na decadência do reino.
O círculo volta a fechar-se, é na decadência que se invocam as memórias dos grandes feitos.
O Luís Vaz quis preservar o estado de graça da sua pequena Pátria e do seu grande Império.

Mas Camões é também um elo desta corrente que nos cinge à nossa condição, é parte integrante deste todo. A sua influência é tão positiva que se repercute também nas páginas negras da história.
Talvez seja isso que define os grandes génios, a sua capacidade para unir os opostos.
Como tantos outros génios, que viveram antes e depois, o Poeta dá o seu contributo para a glória e para a desventura.

Camões abraça e beija a Pátria e instiga-a a feitos maiores.
Os Lusíadas são um grito de incitamento!
Desenha o mapa dos caminhos trilhados e dos mares navegados.
Mostra “a grande máquina do Mundo”.

Mas Luís Vaz de Camões dedicou o seu poema épico a D. Sebastião.
E, apontando “o Mouro frio”, exalta os seus feitos futuros ao serviço da Lusitana liberdade e “aumento da pequena Cristandade”.

D. Sebastião, “o novo temor da Maura lança”, parte à conquista de África, que nunca será sua, e entrega o destino de Portugal à sorte que se conhece.

Camões morre, meses antes de Filipe II de Espanha se tornar o I de Portugal, afirmando: “Ao menos morro com a patria”.

E as águas do tempo fluíram até ao mar, evaporam-se, choveram e voltaram a brotar nas nascentes.
E a memória do Poeta preservada e enaltecida à justa luz dos seus feitos e escritos.


Pequenas anotações:

Camões atribui a D. Sebastião aquela que é, na minha singela opinião, a maior homenagem que algum português jamais recebeu. É a D. Sebastião que as 1102 estâncias dos Lusíadas são dedicadas.
Quis o irónico destino que essa dedicatória ficasse imbuída de um simbolismo próprio que eu considero transcender a conjuntura histórica.
Para mim é um reflexo de nós próprios, do ego e orgulho maiores do que conseguimos albergar dentro de nós, que nos fazem desperdiçar as nossas potencialidades e as oportunidades de que dispomos.


A influência dos génios na história do mundo é por demais evidente.
Albert Einstein, ciente das reacções em cadeia dos átomos de urânio, cometeu, segundo o próprio afirmou, o maior erro da sua vida quando escreveu a Roosevelt.

0 Anotações: