04 março 2007

Silêncio!...

Que se vai cantar o fado!

Esta foi uma frase que hoje não se ouviu. Não foi necessária. O silêncio impôs-se na sala quando as guitarras começaram a tocar e uma voz sentida se elevou.

Hoje confirmei que o Fado é mais do que a música. É o sentimento de um povo que, à sua maneira desajeitada, luta por uma vida melhor.

A alegria das pessoas que o ouvem e, especialmente, o carinho daqueles que se esforçam por trazer um pouco de Portugal aos portugueses cá fora, revelam a pureza do Fado na sua expressão mais singela e popular. E esse Fado dá gosto ouvir, sentir e saborear.

O silêncio que o antecede arrepia e as palmas que se seguem trazem as lágrimas da saudade.

Saudade de um país que escorraça os seus, que os faz emigrar.
Saudade dos lugares onde se cresceu, que já não se conhecem.
Saudade das vozes amigas, numa língua que já mal se fala.
Saudade dos sabores que a fome avivava.

No fundo saudade de nada.
Lágrimas derramadas por lembranças tristes.
Lágrimas de alegria por a vida voltar a sorrir.
Lágrimas por saber que não se pode voltar.
Lágrimas pela certeza que não se quer regressar.


Não sou capaz de ouvir Fado numa aparelhagem. Repudio mesmo as estrelas que o cantam, que nunca sentiram na pele o que é ser fadista...
Trilhar o mundo, labutar de sol a sol e morrer de pé longe da terra que os viu nascer.
Fado é destino... e fadistas os que o enganam.

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